Instinto Assassino
grazi e mari
E-mail: grazinha46@hotmail.com
“Segundo a mitologia grega Licaão o rei da Arcádia ousou oferecer carne humana a Zeus, que como punição o amaldiçoou transformando em uma criatura meio homem e meio lobo.
Na antiga Valáquia, País hoje conhecido como Romênia, havia um príncipe chamado Vlad Tepes conhecido pelo seu sadismo e pela sua crueldade contra seus inimigos. Diz a lenda que pelas suas atrocidades no campo de batalha foi amaldiçoado e obrigado a vagar pelo mundo como um ser nem vivo e nem morto, sua alma nunca tenha paz, e seria forçado a se alimentar de sangue.
Nem mesmo os vampiros ou lobisomens mais antigos tem certeza de sua origem, nem o porque de existir, sabe-se apenas que são essência de tudo que é mal. E ambos acreditam que suas almas só terão descanso com o fim da outra espécie.”
A história que contarei para vocês é sobre quando encontrei, ao mesmo tempo, minha morte e a minha vida. Eu me lembro perfeitamente de como tudo começou, era dia 23 de dezembro de 1652, nesse ano havia acontecido a batalha de Dungeness, o que nos deu liberdade para nos alimentarmos pois morreram muitas pessoas, encobrindo assim nossos hábitos sanguinários.
A cidade estava agitada devido aos preparativos do grande baile de natal, seria realizada no castelo e nobres e camponeses haviam sido convidados. Eu havia sido chamada para tocar piano, e isso me deixava feliz pois a música me fascinava...
Eu estava tocando piano na sala quando o meu irmão apareceu, sentou-se ao meu lado e começou a tocar junto comigo.
-Espero que o baile desse ano seja mais divertido, porque a princesa Jodie vai ser apresentada a sociedade. Diz meu irmão enquanto tocávamos.
-Não posso imaginar como seria uma pessoa que passou a vida trancafiada em um internato na Suíça.
-Imagino que ela não tenha muito pulso firme, para agüentar tanto tempo em um lugar desses, alguém como você não suportaria um segundo em um lugar assim.
-Você tem razão...mas há uma pequena diferença entre nós duas.
-Acho que nessa diferença estaria incluída as presas.
- O papai disse que ela é uma das humanas mais bonitas que ele já viu.
-Veremos- Continuamos tocando por algumas horas, até que fomos interrompidos pela criada, que anunciou a chegada de nosso pai. O nome de meu pai era Demetri Hancock, mas quase ninguém sabia disso. Há muito tempo, devido à grande influência que ele exerceu na época das Cruzadas, foi nomeado Conde de Baskerville pelo próprio Rei Alexandre III. Desde então todos o conhecem como Conde Hancock.
- A música está ficando linda, Gen!
- Obrigada, Papai!
- A cidade está um alvoroço, o ideal seria vocês irem buscar suas vestimentas para o baile agora.
- Então irei imediatamente, Peter você poderia me acompanhar?
- Claro Gen. – Nós nos levantamos e meu pai disse:
- A carruagem está à espera.
- Até logo papai! – Eu disse fazendo uma leve curvatura para meu pai.
- Até breve! – E nos dirigimos à carruagem.
Quando chegamos ao nosso destino vimos que a cidade estava em polvorosa, pessoas entravam e saiam das costureiras e alfaiates todas imaginando como seria o grande baile. Fomos primeiro buscar a roupa de Peter na alfaiataria do Sr. Smith, era um lugar modesto, mais ele era uma pessoa que meu pai confiava muito, ao entrarmos na alfaiataria ele veio nos atender com entusiasmo:
- Pontual como sempre não é mesmo Sr. Hancock.
- Sou uma pessoa que preza a pontualidade. A encomenda está pronta?
- Está sim, desculpe por não levar a sua casa, pois ocorreu um imprevisto com minha esposa.
- Não se preocupe, espero que a Sra. Smith esteja bem.
- Agora está sim, obrigado. Olá Srta. Hancock.
- Boa tarde Sr. Smith. – Eu disse sorrindo.
- Deve estar ansiosa para apresentação de amanhã!
- Um pouco.
- Não se preocupe, todos sabem como você toca bem, e amanhã será um grande dia.
- Muito obrigada Sr. Smith.
- Vamos experimentar a sua roupa Sr. Hancock?
- Claro – disse meu irmão seguindo o Sr. Smith.
E enquanto esperava, ouvia o Sr. Smith dizer a Peter:
- Eu não entendo porque o Sr. e a sua irmã ainda não se casaram, pretendentes não devem faltar.
- Acho que não encontramos a pessoa certa.
- Vocês têm sorte de ter um pai assim, porque a minha filha de apenas 15 primaveras já tem o seu noivo escolhido. Mas quem sabe nesse baile o senhor e a sua irmã encontrem.
- É talvez.
- Venha ver o que acha da roupa de seu irmão Srta. Hancock.
Quando eu o vi ele estava com um fraque preto assim como a calça, uma camisa de linho branca da mesma cor do Jabor, uma faixa de veludo vermelha em seu abdômen, a roupa o deixou maravilhoso, realçando os seus olhos e cabelos castanhos claros.
- Você esta incrível Peter. - eu disse com um sorriso.
- Obrigado Gen. – Falou ele retribuindo o sorriso. – Seu trabalho continua impecável como sempre, Sr. Smith.
- Agradeço o seu elogio Sr. Hancock. – disse o Sr. Smith radiante.
Depois de Peter se trocar, pagamos o Sr. Smith e voltamos para a carruagem, indo agora para o Ateliê de Madame Berthe.
Madame Berthe era uma antiga costureira Francesa, conhecida por fazer os mais belos vestidos de toda a Europa. Seu Ateliê era um lugar colorido e com uma decoração exageradamente cor-de- rosa.
Ao chegarmos até lá, notamos que havia um grande movimento, muitas senhoras, algumas com suas filhas, todas comprando um vestido para o baile. Peter pediu para o cocheiro parar a carruagem próximo a uma ferraria que deixara de funcionar há anos, que ficava ao lado do Ateliê. Percebi um certo movimento na antiga ferraria, mas como estávamos apressados nem paramos para olhar.
Ao entrarmos no Ateliê, muitas pessoas olharam para mim e meu irmão, e Madame Berthe, uma mulher baixa e de porte robusto, sorriu e acenou empolgada e disse com sua voz estridente:
- Minha querida Genevieve, é um prazer vê-la de novo.
- O prazer é meu, Madame Berthe.
-O seu vestido ficou esplendido.
‘- Tenho certeza que sim.
Madame Berthe era uma antiga conhecida da família, eu gostava muito dos vestidos que ela fazia.
- Me acompanhe, por favor, Genevieve seu vestido a espera.
Enquanto passávamos pelas senhoras, via os olhares furtivos em minha direção, e ouvia o que elas cochichavam: “Essa moça é estranha, ainda está solteira com essa idade... acho que é a única da cidade”,“e ela é tão bela e uma nobre, não entendo o porquê.”
Cheguei na sala de provas e madame Berthe um tanto quanto entusiasmada disse:
- Vai ficar esplendido em você, será com certeza a mais bela do baile.
- Mas com seus vestidos qualquer um ficaria.
Madame Berthe sorriu e pegou o vestido estendendo-o para mim:
- Experimente.
Então ela retirou-se para que eu pudesse ficar a vontade. Me vesti rapidamente e olhei-me no espelho, o vestido era realmente incrível, o bustiê azul claro da cor dos meus olhos e todo bordado em cristais, o restante do vestido era azul escuro e com a saia bastante armada e longa, havia também uma faixa que marcava a cintura com um grande laço atrás, a fita era de um azul escuro assim como o vestido, tinha também cristais na barra. Neste momento madame Berthe abriu a porta e disse:
-Você está magnífica Genevieve, vou chamar seu irmão para vê-la.
Ela retirou-se e algum tempo depois voltou com Peter seguindo-a e ele foi logo falando ao entrar:
- Você está deslumbrante! – Disse Peter com um sorriso.
- Obrigada Peter!
- Realmente o seu trabalho faz jus a sua fama... - Disse Peter ainda sorrindo.
- Meu irmão tem razão, este vestido ficou perfeito!!
- É uma honra receber elogios de clientes tão ilustres- Disse Madame Berthe.
- Acho melhor eu ir tirar o vestido.
- Claro. Com licença!- Disse Peter se retirando, seguido logo após por Madame Berthe.
Depois que troquei de roupa, pagamos o vestido, saímos do Ateliê e entramos na carruagem. Enquanto o cocheiro arrumava uma das ferraduras que havia se soltado do casco do cavalo, eu olhei para a antiga ferraria, pois um movimento havia chamado a minha atenção. Vi primeiro um rapaz muito alto, com cabelos loiros escuros e curtos, tinha olhos claros, usava uma camisa branca de mangas compridas, calça marrom e uma bota de couro escuro, estava segurando enormes caixas e andava a passos rápidos para dentro do recinto. Foi então que saiu lá de dentro outro rapaz, este era ainda mais alto que o primeiro, de cabelo loiro um pouco comprido e desalinhado, o que lhe assegurava certo ar selvagem, seus olhos cor de mel passavam uma expressão de cansaço, assim como o irmão- a julgar pela semelhança entre os dois- usava roupas simples de camponês,camisa bege de mangas, calça preta e botas de mesma cor, reparara também que ele usava um cordão com um pequeno anel como pingente... Alguma coisa aconteceu comigo nesse momento, foi como se de alguma forma eu já o conhecesse... o cheiro dele me remetia a uma coisa que eu conhecia muito bem. A morte. A carruagem começou a andar e depois de alguns metros o perdi de vista... Quando olhei para Peter ele disse:
- Você também sentiu?
- Sim.
- Parece que os nossos velhos amigos estão aqui.
- Estamos com problemas... Mas você tem certeza que são eles?
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