Instinto Assassino
grazi e mari
E-mail: grazinha46@hotmail.com
Sai bem cedo de casa, pois a noite anterior havia me deixado com sede, peguei meu cavalo no estábulo e montei. O tempo estava fechado e caía uma chuva fina, a essa hora da manhã haveria pouca gente na cidade, então resolvi ir para o campo. Peguei o caminho mais curto, por uma trilha que passava pelo meio da floresta, e, ao chegar ao meu destino, percebi que ao longe havia um homem lavrando a terra em um pequeno campo de trigo. Desci do cavalo, fui andando cautelosamente em sua direção e me posicionei atrás dele. Em uma fração de segundo pulei em suas costas, tapei sua boca e o mordi. Tudo que eu ouvi foi uma exclamação abafada de surpresa, ele caiu no chão e ficou se retorcendo. Quando saciei minha sede, torci seu pescoço e deixei o seu corpo lá. Voltei a montar o cavalo e resolvi cavalgar um pouco antes de voltar para casa, enquanto isso pensava em meu ultimo encontro com Seth em sua verdadeira forma, nesse momento ouvi uma respiração atrás de mim.
- De novo por aqui senhorita Hancock?
Ao ouvir aquela voz senti-me paralisada, e ao cair em mim, me dei conta de onde estava, havia cavalgado involuntariamente até próximo da cidade, mais precisamente da ferraria. Desci do cavalo e me virei para ele.
- Olá senhor Hale.
-A senhorita devia saber que é perigoso andar sozinho por essas bandas. – disse ele com uma voz parecendo exausta. Ele estava com olheiras, e seu cabelo estava mais desgrenhado que de costume.
- Não creio que haja algo aqui que possa me oferecer perigo. – respondi com um leve sorriso.
-Tenho duas curiosidades a seu respeito. – falou ele me olhando com um ar curioso.
- O quê?
-Qual é o seu primeiro nome?
Achando a pergunta estranha, respondi:
-Genevieve.
-Genevieve...
-E qual é a segunda?
- É verdade que vocês continuam com a cicatriz da mordida da pessoa que a transformou?
- Sim. – ele se aproximou de mim e eu fiquei imóvel, ele afastou o meu cabelo deixando a mostra o meu pescoço, e passou levemente os dedos pela cicatriz de forma circular, que estava alguns dedos abaixo da minha orelha. Ele se afastou e disse:
- Incrível, depois de tantos anos a cicatriz ainda permanece em você.
- Agora que você já satisfez sua curiosidade, eu posso ir. – comecei a andar levando o cavalo pela rédea e percebi que ele me acompanhava.
- Eu nunca imaginei tamanha aproximação com um vampiro. – ele comentou me olhando.
- Acho que posso dizer o mesmo...tenho uma curiosidade também.
- Qual?
- Na noite do baile vi uma moça com vocês, quem é ela?
- Minha irmã Jane...
Hesitei por um momento e depois perguntei:
- Desculpe a intromissão, mas, o que aconteceu com o rosto dela?
- Isso não interessa a você! - Ele disse um pouco exaltado, fiquei calada e vi que havia dito algo que não devia. Ele olhou para baixo, inspirou profundamente e falou:
- Fomos nós...
- O quê?- eu perguntei sem entender.
- Fomos nós que fizemos aquilo... No início, quando nos transformávamos ela sempre estava presente, tinha medo de matarmos uns aos outros. Você sabe que quando nós nos transformamos, não conseguimos nos controlar, mataríamos qualquer um que entrasse no nosso caminho. – Nesse momento ele me olhou, seu rosto aparentava ter envelhecido vários anos ao relembrar essas memórias. – certa noite, de lua cheia, eu e meu irmão, Nicholas, começamos a brigar, por muito pouco não nos matávamos. Ela, muito mais corajosa do que qualquer um de nós seria, pegou uma cadeira e jogou em nós dois, e então avançamos nela. – nessa hora ele parou de falar e me olhou fixamente, nunca havia visto tanta dor e tristeza em um olhar. – teríamos assassinado nossa própria irmã. Mas, ela conseguiu sair e se escondeu no depósito de ferramentas. No dia seguinte a encontramos lá, sangrando, inconsciente. Ficamos desesperados, e eu cheguei a... a tentar me matar. No começo era difícil olhá-la, sabendo que eu havia feito tudo aquilo, com seu rosto, seus braços...
Ele se calou bruscamente e olhou para o chão, parando de andar. Virou-se para mim, seus olhos estavam úmidos, me espantei ao notar que ele estava chorando. A princípio fiquei sem reação, então uma lágrima escorreu pelo seu rosto, estendi minha mão e passei-a onde a lágrima havia molhado. Para a minha surpresa, ele levou sua mão ao rosto e posou-a sobre a minha. Um calor indescritível irradiou daquele toque e se espalhou por cada ínfima parte do meu corpo.
- Pode parecer estranho, mas eu gosto de tocar você. – ele falou acariciando minha mão.
- Você não deve se torturar por isso, Seth. – tocando seu rosto com a outra mão. – Não foi culpa sua, era impossível você ter evitado. Então pegou as minhas duas mãos e segurou-as.
- Eu sei, meu pai sempre me diz isso... mas é difícil pensar de outra forma.
Fiquei quieta, olhando para nossas mãos.
-Mas, não se preocupe comigo... Não há mais nada que se possa fazer. – ele falou se aproximando e olhando para mim docemente, soltou minhas mãos e segurou o meu rosto carinhosamente. E ainda me encarando chegou a milímetros do meu rosto, o suficiente para que eu sentisse o aroma inebriante de seu hálito, e sussurrou:
- Seus olhos são lindos... – e eu sorri.
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